A Plataforma de Estudos do Primeiro Modernismo Literário Brasileiro está no ar com um banco de dados que é uma referência pioneira para os atuais e futuros pesquisadores. O projeto reúne as informações biográficas, a produção escrita e a fortuna crítica dos autores presentes na Semana de Arte Moderna de 1922 ou que se projetaram no decorrer da década de 1920 publicando livros, artigos em jornais e revistas e participando de movimentos. Entre os 24 autores, poetas e escritores destacados na plataforma estão Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Graça Aranha, Manuel Bandeira, Alcântara Machado, Guilherme de Almeida, Tarsila do Amaral e Sérgio Milliet.
Coordenada pelos professores e pesquisadores Marcos Moraes e Frederico Camargo, do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, tem como meta indexar num único repositório, do modo mais completo possível, uma série de referências que até então se encontravam esparsas em dicionários bibliográficos, livros, teses, sites e páginas de periódicos conservados em arquivos e bibliotecas. A Plataforma de Estudos do Primeiro Modernismo Literário Brasileiro está disponível neste link.
“Idealizamos cada imagem como um ‘cartão de visita’ que o autor apresenta ao visitante e o convida a entrar na sua página individual, navegando pelos índices de textos que ele escreveu ou que foram escritos sobre ele.”
O pesquisador entra na plataforma e, diante de uma edição de arte dinâmica e objetiva com letras pretas, fundo branco e margens em vermelho, acessa as informações com clareza e concentração. “Para deixar a página de entrada visualmente agradável, escolhemos colocar imagens de frações de capas ou de folhas de rosto de livros representativos dos escritores mais conhecidos”, explica o professor Frederico Camargo. “Idealizamos cada imagem como um ‘cartão de visita’ que o autor apresenta ao visitante e o convida a entrar na sua página individual, navegando pelos índices de textos que ele escreveu ou que foram escritos sobre ele.”
Exemplo: se o visitante clicar na primeira imagem da plataforma, Macunaíma, o Herói Sem Nenhum Caráter, livro de Mário de Andrade, ele se depara com a biografia ou cronologia biobibliográfica do escritor. E logo observa a sua produção e as obras escritas sobre ele: 108 livros, 781 partes de livros, 1.588 textos em periódicos, cinco prefácios, posfácios e afins e 424 teses e dissertações. “O banco de dados é um instrumento de pesquisa extraordinário, soma mais de 30 mil referências bibliográficas, elencando a produção e a fortuna crítica dos principais escritores ligados à Semana e ao Primeiro Modernismo”, comenta o professor Marcos Moraes. “Em muitos casos, a base de dados direciona o pesquisador diretamente para a fonte.”
A Plataforma de Estudos do Primeiro Modernismo Literário Brasileiro já está disponível para todos e os resultados, segundo Camargo e Moraes, são volumosos, porém o trabalho continua em processo. “Essa plataforma se alimenta do acervo do IEB e ao mesmo tempo o amplia”, diz Camargo. “Por um lado, grande parte das informações bibliográficas a respeito dos escritores já se encontra disponível no Arquivo e na Biblioteca do IEB, como as produções jornalísticas de Mário de Andrade, Guilherme de Almeida, Menotti Del Picchia e Alcântara Machado. Por outro lado, nosso site pode fazer algo que dificilmente um arquivo ou biblioteca pode mais usualmente fazer: indexar ilimitadamente materiais localizados em outras instituições de guarda ou acervos virtuais.”
“A base de dados democratiza a pesquisa e se abre para acolher futuras descobertas, resultante de novas investigações.”
Segundo os organizadores, o site tem um grande diferencial: “Reunimos numa só plataforma referências a documentos dispersos por todo o mundo, desobrigando que o pesquisador ou interessado tenha que se embrenhar reiteradamente numa selva de inúmeros catálogos e bases digitais desconectados. A base de dados democratiza a pesquisa, abre-se para acolher futuras descobertas, resultante de novas investigações”, pontua Moraes.
A iniciativa de criar a Plataforma de Estudos do Primeiro Modernismo Literário Brasileiro tem à frente especialistas que, no decorrer de suas pesquisas, foram buscando detalhes da história, das obras e da repercussão dos escritores do Modernismo. O professor Frederico Camargo, tanto no mestrado como no doutorado, dedicou-se ao arquivo pessoal do escritor João Guimarães Rosa conservado no IEB. “Ao longo dos últimos anos, além da pesquisa em literatura brasileira, acabei contribuindo para publicações on-line de sites como a Bibliografia Crítica do Teatro Brasileiro, o Banco de Dados Bibliográfico João Guimarães Rosa e o Banco de Dados Bibliográfico Osman Lins.”
E Marcos Moraes é professor de Literatura Brasileira do IEB. “Ao lado da professora Telê Ancona Lopez, dedico-me ao estudo do Modernismo, pesquisando fontes primárias preservadas em arquivos de escritores.” Moraes tem se empenhado especialmente no estudo da correspondência e de manuscritos de obras editadas ou inéditas no arquivo de Mário de Andrade.
O projeto caminha propiciando a formação de novos pesquisadores do Modernismo brasileiro. “Nesse processo, foi de fundamental importância a colaboração das alunas do curso de Letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP Vitória Viana Lima Passos, do Programa Unificado de Bolsas da USP, e Vanessa Lima de Almeida, bolsista do CNPq.” O projeto, assim, também propiciou a formação de pesquisadores do Modernismo brasileiro.
“Oportuno frisar que a Plataforma de Estudos do Primeiro Modernismo Literário Brasileiro não é uma biblioteca digital”, observa Camargo. “Trata-se de um indexador de referências bibliográficas espalhadas em arquivos e bibliotecas físicas e acervos virtuais. Sempre quando possível, nós adicionamos ao registro bibliográfico um link para a sua imagem digital ou texto completo em site ou base digital externa.”
O professor acentua que o visitante do site encontra atalhos para uma parte substancial de textos jornalísticos de época, artigos acadêmicos e teses originalmente hospedados em locais como a Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional e bancos de teses e dissertações de universidades. “O papel e o desafio do consulente do website será o de fazer seus próprios recortes e seleções a partir de um número bastante volumoso de referências bibliográficas. A nossa expectativa é que a plataforma possa se firmar como um profícuo celeiro de pesquisas.”
A Plataforma de Estudos do Primeiro Modernismo Literário Brasileiro está disponível neste link.
Por Jornal da USP