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Qual vinho harmoniza com a nossa comida do dia a dia?

por André De Fraia

Em uma terça-feira qualquer, você resolveu preparar aquela massa diferente por conta de um maço de manjericão irresistivelmente lindo no supermercado, ou decidiu assar um peixe para um jantar mais leve e bate aquela vontade de tomar um vinho. Talvez apenas uma taça enquanto prepara o prato e outra enquanto come (afinal é só uma terça-feira), e você se pergunta: “O que vou beber com essa comida tão simples?”.

A resposta pode ser simples também, embora tenhamos de dizer que um grande vinho pode ser bebido em qualquer momento, muitas vezes apenas acompanhado de pão fresco, azeite e fatias de maçã verde. No entanto, essa não é uma harmonização, é um simples acompanhamento para um produto que já é muito bom, e que não deve ser maltratado por uma sobra de pizza de dois dias atrás.

Por vinho simples, entenda-se vinhos que podem ser bebidos sem a necessidade de serem decantados, que não precisam ser resfriados com precisão (a menos que você more em cidades onde a temperatura média esteja acima dos 25°C e não tenha um lugar mais fresco para armazenar suas garrafas) e que podem ser comprados e bebidos imediatamente.

Confira abaixo alguns pratos típicos do dia a dia nacional e como harmonizar cada um deles, além de, claro, dicas de vinhos.

Feijoada

Quando falamos de harmonização, nenhum debate é mais acalorado do que a possibilidade de combinar algum vinho com o prato nacional por excelência: a feijoada.

Grupos de degustadores já fizeram extensas provas, tentando combinar a gordura das carnes com vinhos tintos mais tânicos, a opulência do caldo com a acidez dos espumantes e outras opções. A conclusão é um tanto desanimadora, pois praticamente nenhum vinho faz frente à complexidade de sabores de uma feijoada.

Ao falarmos em opulência, estamos falando de uma composição em que muitos elementos se sobressaem, desde a gordura dos torresmos de entrada, passando pela suculência das carnes, da riqueza dos temperos (alho, pimenta, louro), da mineralidade da couve e do próprio feijão. Assim, um vinho capaz de conter ou se opor a um desses elementos, dificilmente conseguirá fazer o mesmo com todos.

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Feijoada, um desafio

Para quem ainda assim quer tentar, a sugestão é um vinho italiano frisante, da uva Lambrusco. Muito embora os secos e com qualidade suficiente para serem bebidos sejam raros (e caros), ele pode ser combinado em parte com a feijoada por ter um pouco de acidez, frescor e uma pequena dose de taninos (a Lambrusco é uma uva tinta). Se a curiosidade for grande, vale tentar.

Medici Ermete Concerto Reggiano Lambrusco 2015

Medici Ermete Concerto Reggiano Lambrusco 2015 – AD 91 pontos – Medici Ermete, Emiglia-Romagna, Itália

Tinto frisante seco elaborado exclusivamente a partir de  Lambrusco Salamino. Pura fruta vermelha e negra fresca, é tenso e gastronômico, esbanjando acidez e taninos de ótima textura. Delicioso de beber!

O macarrão da quinta-feira

Antes dos restaurantes self-service serem tão populares no Brasil, era comum que cada dia da semana tivesse seu prato tradicional. Em São Paulo, por exemplo, a quinta-feira era o dia da macarronada, com molho vermelho e, muitas vezes, acompanhada de frango assado ou de rolinhos de carne (o bife à rolê).

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Macarronada, um clássico no dia a dia brasileiro

Para esses pratos, ainda tão populares, a combinação pode ser com um tinto italiano, como os Chianti, ou um Syrah do Chile, com seu frutado e fundo de especiarias.

No entanto, se o macarrão tiver molho branco ou de queijos, vale tentar um Chardonnay amadeirado, que não esteja extremamente gelado. A oposição vai ser bastante agradável e, se o seu companheiro de mesa estiver comendo uma massa com molho de tomates, ofereça uma taça do Chardonnay, ele vai se surpreender, pois a acidez do vinho é complementar à acidez do molho de tomates. E esse mesmo branco vai funcionar se alguém estiver comendo um risoto simples, sem carne, com uma base de queijo e fruta, como pera e gorgonzola, por exemplo.

Juan Carrau Chardonnay 2021

Juan Carrau Chardonnay 2021 – AD 91 pontos – Bodegas Carrau, Canelones, Uruguai

Um Chardonnay, best buy, elaborado pela família Carrau e toda sua expertise de mais de 10 gerações produzindo grandes vinhos. Mostra notas florais e de ervas envolvendo suas frutas brancas e de caroço maduras, tudo sustentado por vibrante acidez e textura cremosa. Tem final cativante, com toques cítricos, de pêssegos e de abacaxi, que convidam a uma segunda taça.

Roca Bonarda Sangiovese 2021

Roca Bonarda Sangiovese 2021 – AD 88 pontos – Alfredo Roca, Mendoza, Argentina

Frutado, fresco e deliciosamente gastronômico, é uma grata surpresa composta de Bonarda e Sangiovese, sem passagem por madeira. Bem feito em seu estilo de maior madurez de fruta vermelha e negra, com boa acidez e taninos macios, que equilibram o conjunto. 

Os domingos preguiçosos

Para quem escolheu o churrasco como prato oficial do domingo, é legal saber que as carnes na grelha (em geral mais gordurosas) pedem vinhos com mais taninos, como portugueses da região da Bairrada, Cabernets mais potentes, Tannats uruguaios (aqui cuidado: se você for um apreciador de carnes bem passadas, evite os Tannats, pois a combinação ficará amarga) e Malbecs argentinos. O tanino marcado desses vinhos aprecia a companhia da proteína e da gordura das carnes.

Mas para quem escolheu terminar o dia na frente da televisão, comendo uma fatia de torta ou quiche, as opções são bem diferentes, um branco da uva Gewürztraminer para esses pratos pode agradar mais o paladar. O frescor de um Gewürztraminer vai refrescar a gordura da torta ou da quiche e limpar bem o paladar.

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Churrascos vão bem com tintos, mas se quiser arriscar brancos e espumantes também são boas opções

Se as opções da noite foram sanduíches, no entanto, os brancos permanecem em pauta quando a preparação levar queijos ou patês com ricota. Porém, se os frios – como a mortadela, o salame ou mesmo uma copa – forem o recheio principal, vale um tinto leve, como um Bardolino, um rosé bem mais marcante, como um português, e até mesmo aquele bom Lambrusco seco, mais difícil de encontrar, que pode ter sobrado da feijoada do sábado.

Lacertilia Tannat 2020

Lacertilia Tannat 2020 – AD 89 pontos – Bracco Bosca, Canelones, Uruguai

Tannat sem madeira, ou seja, a casta em sua pureza. Um estilo mais maduro, apresenta uma fruta limpa e nítida, seguida por notas de especiarias, de ervas e terrosas. Tem bom volume de boca, acidez pronunciada, taninos numerosos e de boa textura e final saboroso.

Um vinho e um prato?

A harmonização moderna tende a contrariar a noção de que vinhos tintos são para carnes vermelhas e brancos para carnes brancas. Na verdade, nenhum radicalismo é necessário nesse caso, muito pelo contrário, o que funciona sempre não deve ser desprezado. A aventura da harmonização está precisamente na experimentação, nas inúmeras possibilidades.

Por exemplo, para muitas pessoas, alguns cortes de carne de porco, como o lombo ou a picanha suína, são cortes magros, de “carne branca” e, por isso, podem ser acompanhados de vinhos brancos, como um blend francês fresco, herbáceo ou um Sauvignon Blanc nacional.

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A carne de porco é coringa, vai com bem tinto e com branco

Por outro lado, esse mesmo porco pode ter um corte completamente diferente utilizado na cozinha, como o pernil ou a costelinha, considerado agora como carne vermelha, mais gordurosa, assim fazendo uma combinação perfeita com um Tempranillo espanhol ou até mesmo um Pinot Noir do Novo Mundo (aqui o tempero vai dar a tônica da combinação, uma vez que a Pinot é uma uva mais delicada). Por isso, generalizações são contrárias à surpreendente experiência da harmonização.

Adobe Reserva Pinot Noir 2020

Adobe Reserva Pinot Noir 2020 – AD 89 pontos – Emiliana, Bío Bío, Chile

Esse vinho orgânico é elaborado exclusivamente a partir de Pinot Noir. Em um perfil mais maduro, apresenta ótima tipicidade, com frutas vermelhas, especiarias, floral e ervas. No palato, tem fruta saborosa e de qualidade, bem acompanhada pela acidez refrescante e pelos taninos macios e de boa textura, além de final médio e cativante, com notas de cerejas e de hibisco.

Por Revista Adega

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