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Programa Nascente consolida revelação de talentos universitários

Em 1990 a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) da USP dava início ao Programa Nascente. O sonho declarado (e realizado) pelo então pró-reitor, professor João Alexandre Barbosa (1937-2006), era “fazer com que a Universidade pudesse tornar visível aquilo que, em oito áreas artísticas, fazem seus estudantes”.

Na época, a internet no Brasil começava a ser gestada academicamente com a criação, pelo governo federal, da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa. Na televisão, a novela Pantanal estreava na extinta Manchete. A Organização Mundial da Saúde (OMS) excluía a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças.

Passados 29 anos, a tradicional premiação do calendário anual da USP foi entregue na noite da última sexta-feira (18) no renovado Anfiteatro Camargo Guarnieri, reaberto à comunidade após uma reforma de quase sete anos na Cidade Universitária.

A 27a edição do Nascente despertou o interesse de 694 estudantes de graduação e pós-graduação da Universidade que submeteram um total de 590 trabalhos nas categorias de Artes Cênicas, Artes Visuais, Audiovisual, Design, Música Erudita, Música Popular e Texto. Cada uma delas contemplada com uma gratificação no valor de R$ 4 mil.

“Os prêmios, claro, são muito importantes. São parte dessa festa, eles nos estimulam”, declarou na abertura da cerimônia o coordenador acadêmico do Nascente, professor Luiz Claudio Mubarac. “Mas talvez mais importante que os prêmios seja o fato de as várias artes se encontrarem uma vez por ano, no mínimo, dentro do campus e em outros campi, para que a gente possa trocar uma série de informações que a contemporaneidade exige do fazer em arte.”

“Uma oportunidade, que eu considero singular, para descobrir novos talentos”, acrescentou a pró-reitora adjunta de Cultura e Extensão Universitária, professora Margarida Maria Krohling Kunsch. “Esses estudantes, que hoje têm essa oportunidade, carregam isso para sua vida profissional.”

Quase 700 estudantes inscreveram trabalhos no Nascente 2019, em sete categorias, como Artes Cênicas – Divulgação PRCEU/Sandra Lima
Nascente é uma oportunidade para jovens artistas mostrarem seu talento – Divulgação PRCEU/Sandra Lima
Apresentação da peça El General, durante a edição 2019 do Programa Nascente – Divulgação PRCEU/Sandra Lima

Estudantes, amigos e familiares prestigiaram a noite festiva de premiação com muitos aplausos e assovios a cada anúncio dos contemplados e menções honrosas das atuais sete categorias, revelados pessoalmente pelos jurados.

As duas horas de cerimônia, em clima informal, abarcaram até o protesto de um dos finalistas de Audiovisual que, ainda da plateia, reagiu a um problema técnico que deixou sem áudio a exibição de um trecho de Lua, Mar. Anunciados como vencedores, os estudantes subiram ao palco para buscar o prêmio, dividido com a produção de Apneia. Lua, Mar está em exibição aberta ao público, junto com os demais finalistas, no Centro Universitário Maria Antonia até 17 de novembro.

A festa de premiação do Nascente 2019 seguiu sem demais incidentes, recheada com as apresentações musicais de Giulia Faria (vencedora em 2015) e Zé Leônidas (finalista em 2010), além da declamação poética de Mariana Cobuci (contemplada em 2013) e da apresentação teatral do grupo Bastardos (vencedores em 2018) com Um Homem é um Homem, do dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956).

A noite festiva foi precedida ainda por eventos que vinham ocorrendo desde setembro: um Sarau Literário e a abertura da exposição Visualidade Nascente 2019, no Centro Universitário Maria Antonia, além de apresentações teatrais do programa no Teatro da USP (Tusp) e mostras de Música Erudita e Popular no Anfiteatro Camargo Guarnieri.

Sarau literário foi uma das atrações do Nascente – Divulgação PRCEU/Sandra Lima

Na mostra da categoria Artes Cênicas, quatro finalistas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) tomaram o palco do Teatro da USP (Tusp), na última semana de setembro. Vicente Antunes Ramos, na subcategoria Direção, concorreu com Terra Tu Pátria, que traz ao público a cena política atual a partir de documentos recentes da história do País. O espetáculo esteve em cartaz no Tusp entre agosto e setembro, como parte da ocupação conjunta No Calor da Hora.

Também na subcategoria Direção, Caio Horowicz Rezende apresentou A Última Gaivota, que usa da metalinguagem para falar sobre arte e mercadoria. O público foi surpreendido na entrada do espetáculo pela personagem Última, que interpreta a derradeira atriz de um futuro distópico. O texto, de autoria de Isabela Egea Lisboa Lacerda, do curso de Formação de Atores da Escola de Arte Dramática (EAD) da ECA, foi inspirado na peça A Gaivota, de Anton Tchekhov, e também concorreu pelo Nascente 2019 na categoria Texto, subcategoria Dramaturgia.

O projeto nasceu como um processo colaborativo. “Caio na direção, eu na dramaturgia, os atores e demais integrantes nos reunimos semanalmente, durante um semestre, para discutir temas que nos interessavam e obras que os abordavam”, contou a autora. “Cada área passou a trazer propostas para dialogarem entre si. Principalmente com as improvisações dos atores, o texto foi se construindo assim, em etapas, até chegar à versão atual.”

Rafael Santos de Barros concorreu na subcategoria Interpretação Individual com El General, nascido do seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Artes Cênicas na Universidade Estadual de Londrina e que se constitui agora na base de sua pesquisa de mestrado na ECA. Ao representar um soldado palhaço em cenas com muito improviso, Barros acabou contando em sua apresentação no Tusp com a participação de uma espectadora que levou a sério a brincadeira.

“Já não sei quais são os limites da prática e da teoria, por isso acreditei que seria importante participar do Nascente”, contou o ator, que acabou premiado na categoria.

Mostra de trabalhos na categorias Artes Visuais – Divulgação PRCEU/Camila Previato Guimarães

A jovem atriz Fernanda Graça Machado também concorreu na subcategoria Interpretação Individual com ANTIgonas – Mulheres do NÃO, em que utiliza os temas da heroína grega para atualizar as questões de gênero e racial das mulheres negras contemporâneas. Na encenação, Fernanda conversa com o público e relata experiências de irmãs que perderam seus familiares pela violência cotidiana, além de serem vítimas de abusos de autoridade por sua cor.

Já na última sexta-feira de setembro, o edifício Joaquim Nabuco do Centro Universitário Maria Antonia ficou apinhado de gente. Estudantes  da USP e público externo dividiram as cadeiras no saguão e compartilharam as escutas de contos, poesias, novelas e dramaturgias. O sarau reuniu essas produções textuais também inscritas no Nascente USP 2019.

Foram mais de 50 autores que tomaram conta do microfone e puderam mostrar seus trabalhos. Em meio às leituras, os participantes souberam em primeira mão os nomes dos 13 finalistas da categoria Texto. Amália Santos, que passava pelo local, resolveu espiar o que acontecia e ficou para escutar. “Gosto de participar de saraus e conhecer a produção atual de textos. Foi uma grata surpresa.”

Os trabalhos de 323 estudantes de graduação e pós-graduação da USP foram analisados pela comissão julgadora formada pelos professores Maria Célia Pereira Lima Hernandes e Emerson da Cruz Inácio, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), além de Jean Pierre Chauvin, da Escola de Comunicações e Artes (ECA).

Na mesma noite, a exposição Visualidade Nascente 2019 foi aberta ao público, com obras das categorias Artes Visuais, Design e Audiovisual.

Estudante do curso de Artes Visuais da ECA, Carlos Jeucken inscreveu seu ensaio fotográfico O Silêncio é um Lugar. “Acredito que a edição de um ensaio fotográfico ou de qualquer outro conjunto de obras visuais seja para muitos uma extensão natural do processo criativo. No caso específico deste concurso, foi também um exercício importante, levando-se em conta as restrições contidas no regulamento, bem como as limitações do espaço expositivo”, explicou.

Concorrendo com dois trabalhos, a instalação Bordas e a escultura Reizinho (que põe em xeque as posições autoritárias na sociedade), em sua primeira vez no Nascente, Victor Gouvêa e Silva descobriu que “existe uma aura em torno do prêmio. Alguns alunos se sentem intimidados até para se inscrever (talvez por ter banca), porque é algo grandioso”.

Oito obras da categoria Design também estão expostas no Centro Universitário Maria Antonia. As estudantes Calíope Sakaki da Silva e Camille Angélica Studt concorreram com Carrinho de Rolimã Nexus, na subcategoria Design de Produto. Também foi a primeira vez que se inscreveram no Nascente. “Os trabalhos no curso de Design sempre passam por um longo processo de pesquisa, entrevistas, benchmark de sketches (rascunhos) antes de começarmos a projetar de fato”, explicou Camille. “A etapa da construção do protótipo em escala real foi bastante relevante para o projeto. Ter a possibilidade de ver o nosso produto finalizado, bem como poder utilizá-lo, nos incentivou muito ao longo do processo de criação.”

Na categoria Audiovisual, cinco trabalhos disputaram o prêmio. Dener Oyakawa, Letícia Sillmann e Ângelo Lopez concorreram na subcategoria Projeto – Animação com o curta Insolúvel. Letícia explicou  que “com o projeto do TCC pronto para ser tirado do papel, surgiu a necessidade de buscar ajuda financeira. Então decidimos inscrever o projeto no Nascente, já que queríamos muito fazer um curta de terror em animação”.

Jurados e vencedores na categoria Audiovisual do Programa Nascente 2019 – Divulgação PRCEU/Fernando Molina

Se há uma palavra que resume o clima musical da noite de 16 de outubro no Anfiteatro Camargo Guarnieri, ela é diversidade. Mencionada pelos participantes, jurados e pelo apresentador do evento, acabou traduzindo um pouco da essência do próprio programa Nascente USP, que coloca no palco os mais variados estilos e propostas.

Já na primeira apresentação, o compositor Gabriel Duarte da Silva, da peça “br[asas] n.3”, anunciou que a intenção era exatamente “aproximar diferentes universos ao conectar música popular e erudita em uma composição que encurte essa distância”. Ou na apresentação seguinte, em que Fernando Donizete Genari e Vitor Botelho Sampaio interpretaram uma versão de Paulistanas, de Cláudio Santoro, para duo de violões. Fernando destaca: “O grande desafio de transcrever uma obra do piano ao violão é conseguir ser fidedigno à partitura mesmo ao buscar o ganho necessário no violão, para compensar a diferença de abrangência de notas”.

Experimentações com estética mais vanguardistas também não faltaram, como Luzes em Desassossego, do mestrando em Sonologia Pedro Yugo Mani. Ou o emprego de instrumentos não convencionais na música erudita, como pandeiro e mesmo a flauta. Bruno Miranda, que interpretou a Sonata Número 1 para Duas Flautas, de W. F. Bach, explicou no palco que a flauta é muito presente na música popular, como por exemplo no choro, mas vem ganhando força na música erudita, e que o músico completo deve conseguir transitar por esses universos. Seu parceiro de apresentação, Fábio Ferreira, exaltou a importância do Nascente USP nesse contexto, abrigando todos os estilos e propostas, sem preconceitos. “Para quem se dedica à música, o mais importante é ter um palco para se apresentar e uma plateia para apreciar esse trabalho.”

Nas apresentações de música popular não foi diferente, como no arranjo de Chora Viola, que trouxe para o choro a dupla viola e violão, normalmente presente na música caipira. Além do arranjo de Luiza Carvalho Tavares Alves, Menina que vai à praia/Quem me deu foi Lia, propondo um jogo de contraste de instrumentos, com elementos da ciranda, como o surdo, e outros típicos da música erudita, como o fagote.

Julgamentos e comparações

Em um ambiente com propostas tão diversas, como julgar e escolher os vencedores do concurso? É possível comparar um trabalho de composição com um de interpretação? Talvez esse seja um dos maiores desafios dos jurados do Nascente. Para Luca Raele, membro da comissão de Música Erudita, a chave está na apuração técnica: “Valorizamos o impacto da experiência estética”. Imediatamente após a última apresentação, os trios de jurados de cada categoria se reuniram para a deliberação. Rogério Costa, da comissão de Música Popular, ressaltou a importância de se fazer esse trabalho ainda com o frescor do momento, pois a apresentação ao vivo tem uma característica muito própria, completamente diferente do registro em áudio e vídeo. Sua colega de júri concordou, lembrando a importância da energia e da proximidade com a plateia. “Ainda que apresentações gravadas possam eventualmente se utilizar de mecanismos de ganho ou correção, o que vimos aqui ao vivo tem se mostrado de melhor qualidade do que as gravações enviadas na hora da inscrição, pelo contexto do evento”, destacou a pianista Juliana Ripke da Costa.

Já o terceiro membro da comissão, Paulo de Tarso Salles, ponderou que apresentações ao vivo trazem também fatores pontuais, não necessariamente ligados à qualidade do trabalho, como eventuais falhas técnicas ou a condição do músico naquele instante. De modo que a escolha dos vencedores acaba acontecendo também em função de um retrato de momento, de uma situação específica. O que, para Salles, não tira de forma alguma o valor do evento. “Apesar de ser formalmente um concurso, vejo que o melhor do Nascente USP não é necessariamente o aspecto competitivo, mas justamente essa grande celebração e esse espaço de divulgação da arte e da diversidade musical. Todos os envolvidos acabam tendo muita clareza de que mesmo aqueles que não saem vencedores também têm uma grande qualidade.”

Confira abaixo os vencedores nas sete categorias do Nascente USP 2019

Música Erudita

Jessica Gubert – Fantasia para Clarinete Solo de Jorg Widmann

Artes Cênicas (dois premiados)

Rafael de Barros – El General

Vicente Antunes Ramos – Terra Tu Pátria

Música Popular  (dois premiados)

Gabriela Silveira de Andrade – Oração

Luísa Carvalho Tavares Alves – Menina que vai à praia /Quem me deu foi Lia

Audiovisual (dois premiados)

Arão Nicolas Lopes Silva, Fillippo Pettinelli Balboni e Lucca Chiavone Alves – Lua Mar

Victoria Negreiros, Giuliana Lanzoni Tambellini, Júlia Dordetti Fávero e Luiza Garzeri Freire – Apneia

Texto (dois premiados)

Isabela Lisboa – A última gaivota

Gabriel Schincariol Cavalcante – A história dos homens

Design

Karen Laurindo, Ah Ro Yoon, Luisa Vasconcellos Rodrigues, Nikolas Eisuke Suguiyama e Andre Junior Youn – Eco Oca

Artes Visuais

Victor Maia – Disparate (confusão) | mangue | Sem título (porta do cemitério)

Elcio Silva, Fabio Rubira, Michel Sitnik e Sandra Lima. Colaborou Mariana Fraga

Por Jornal da USP

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