Apesar da diversidade de costumes e tradições do Natal em todo o mundo, uma ceia de agradar os olhos e paladares ainda é algo em comum entre todos. A culinária ganha um significado especial entre os povos, incluindo os indígenas, que, apesar de terem a própria crença, não deixam de preparar uma grande ceia para o Natal.
A ceia natalina em comunidades indígenas conta com pratos típicos e receitas tradicionais, como o beiju, moqueca de peixe com banana da terra, paçoca, entre outros. O G1 visitou a comunidade Parque das Tribos, na Zona Oeste de Manaus, e acompanhou o passo a passo de dois pratos que tradicionalmente integram a ceia: a ‘quinhapira’ (peixe com pimenta e tapioca) e o peixe assado na folha de bananeira (veja receitas abaixo).
No Parque das Tribos, vivem 36 famílias aldeadas. Membros da comunidade explicaram que esses pratos já fazem parte da rotina indígena, mas, no Natal ganham um novo sentido, já que se unem às outras tradições, como o canto, a dança, as orações e a distribuição de presentes.
A artesã da etnia Baré, Natalina Martins, explicou que a ‘quinhapira’ é um prato servido como forma de expressar a união e a receptividade dos povos da aldeia. A receita leva pimenta, tucupi e é servido com tapioca.
“Nós servimos esse prato aos visitantes como forma de dar boas-vindas. Em toda casa que você entrar, na aldeia, você vai ser recebido com uma cuia de quinhapira. Pode comer no café da manhã, no almoço ou jantar, mas no Natal, servimos de forma especial, porque toda a aldeia se reúne para compartilhar em uma única casa”, disse.
A tradição é comer na cuia, e com bastante pimenta. Se não for assim, segundo os membros da comunidade, não é quinhapira.
Além dela, outro prato que não pode faltar na ceia indígena é o peixe assado na folha de bananeira. O alimento é assado e comido na própria folha, sem o uso de talheres, uma tradição dos membros da comunidade.
Peixe, sal e limão compõem a receita do ‘peixe moqueado’ ou assado, que, segundo o engenheiro da etnia Munduruku, Ismael Munduruku, ajuda no rejuvenescimento.
“Nossa alimentação tem um grande significado para nós. Ela representa nossa forma de viver, e de como queremos nos apresentar aos demais, diz muito sobre a nossa cultura. O que comemos e como preparamos representa quem somos e o nosso modo de vida”, explicou.
A crença indígena está relacionada a existência de mais de um Deus, e não um só criador. Apesar disso, os membros da comunidade contaram ao G1 que, com o tempo e a convivência na área urbana, passaram a celebrar o nascimento de Jesus Cristo.
Eles se reúnem na casa do pajé, simbolizando a igreja ou um local sagrado. Antes da ceia, cantam e dançam. O pajé reúne os guerreiros da comunidade, presenteia as crianças, e logo em seguida é distribuída a ceia para todos os presentes.
Segundo a influenciadora digital Ira Maragua, moradora do Parque das Tribos, os pratos são servidos como forma de simbolizar a união entre as famílias e etnias. Cada membro contribui com um prato ou ingrediente para a realização a ceia.
“A ideia é unir as comunidades. Sempre fizemos essa comemoração, de reunir as etnias. A gente se reúne e um traz a mandioca, o outro traz o peixe, outro traz o tucupi. Não é fácil, e por isso precisamos estar sempre em união para que futuramente a gente consiga se estabilizar melhor”, comentou.
O ‘tempero’ da união faz a diferença na ceia indígena, aliado à criatividade e ao espírito natalino. E os indígenas não fazem segredo sobre as receitas. Saiba como preparar os pratos da culinária indígena para o Natal:
PREPARO
Primeiro, deixe a tapioca pronta, separada. Depois, em uma panela grande, coloque na água o tucupi e as pimentas para ferver. Na sequência, acrescente o peixe e o sal. Deixe cozinhar por 20 minutos. Sirva com tapioca ou beiju seco.
- 2 kg de peixe da sua preferência (não recomendado peixes grandes, como pirarucu e tambaqui)
- 6 limões
- 3 colheres (sopa) de óleo
- 2 cebolas
- 2 dentes de alho amassados
- 1 e meia xícara (chá) de farinha de mandioca crua
- 1 folha de bananeira grande (pode substituir por papel alumínio)
PREPARO
Limpe o peixe e depois deixe de molho no sal e no limão por cerca de 40 minutos. Em uma panela, aqueça uma colher (sopa) de óleo e refogue a cebola e o alho. Junte a farinha de mandioca e mexa até ficar levemente dourado. Recheie o peixe com a farofa. Lave bem a folha de bananeira e unte-a com o óleo restante. Envolva o peixe na folha de bananeira, coloque-o numa forma e leve ao forno médio (180ºC), preaquecido, por cerca de 60 minutos. Retire do forno e sirva a seguir.
Por G1