Quantos carnavais não foram embalados pela marchinha: “Ó abre alas / Que eu quero passar / Ó abre alas / Que eu quero passar / Eu sou da lira / Não posso negar”? Mas você sabia que esse clássico foi composto por Chiquinha Gonzaga (1847-1935), a primeira mulher a reger uma orquestra no país?
Para celebrar o legado deixado por essa compositora incrível, que viveu muito além de seu tempo, chega ao a .
Com curadoria dos núcleos de Comunicação e Música da instituição e da cantora Juçara Marçal, além de consultoria de Edinha Diniz (biógrafa de Gonzaga), a exposição reúne 120 itens que revelam um pouquinho sobre a trajetória dessa grande artista brasileira. Entre esses artigos, estão documentos, partituras, capas, objetos, fotos e conteúdo musical e audiovisual.
Anos luz de seu tempo
Além de mergulhar na vida e na obra de Chiquinha Gonzaga, a ocupação tem a missão de resgatar sua identidade de mulher afrodescendente, que costuma ser ignorada ao se falar sobre ela. Isso também acontece com outras figuras negras importantes, como o escritor Machado de Assis (1839-1908), por conta do racismo que estrutura nossa sociedade.
Não acredita? Lembra quem protagonizou a minissérie “Chiquinha Gonzaga”, feita pela TV Globo em 1999? As atrizes brancas Regina Duarte e Gabriela Duarte, que interpretaram a compositora em diferentes fases da vida.
Francisca Edwiges Neves Gonzaga era filha de pai branco e mãe “parda liberta”, termo usado em um documento de batismo da mãe, que pode ser conferido na exposição. Ela viveu na transição do Império para a República no Brasil, lutou ativamente pela libertação dos escravos e presenciou fatos como a Lei do Ventre Livre (1871), a Lei dos Sexagenários (1885) e a assinatura da Lei Áurea (1888).
Para problematizar a questão, o Itaú Cultural convidou a dramaturga Maria Shu para escrever cinco roteiros que apresentam trechos da vida de Chiquinha nas vozes de outras potentes mulheres negras. São elas: as cantoras Fabiana Cozza e Jup do Bairro; a multiartista Dona Jacira (mãe do Emicida); a percussionista Beth Beli, fundadora do Ilú Obá De Min; e a atriz Indira Nascimento.
Chiquinha Gonzaga também enfrentou o forte conservadorismo da época para se tornar compositora e maestrina, já que a carreira artística feminina era vista com maus olhos. E outro fato que revela esse lado transgressor é: ela teve três relações amorosas, embora fosse casada e o divórcio não fosse permitido.
Outros destaques
Você ainda pode conferir na Ocupação Chiquinha Gonzaga as partituras para algumas das mais de 2 mil canções compostas pela artista, como “Ó Abre Alas”, a primeira marchinha de Carnaval do país, escrita em 1899 para o Cordão Rosa de Ouro. Também dá para ouvir esse hino carnavalesco tocado por diferentes instrumentos.
E, como não poderia ser diferente, a mostra ainda é atravessada por muitos sons e composições da artista. Em uma instalação que você ativa com os pés, dá para ouvir arranjos feitos por musicistas contemporâneos sobre os diversos gêneros compostos por Chiquinha, como valsa de opereta, polca, maxixe, cançoneta cômica e dança africana.
Outra atração é uma paisagem sonora criada especialmente para exposição que envolve o público com os sons das ruas do Rio de Janeiro do século 19. Esse recurso evoca os elementos que ajudaram a maestrina em suas composições e ritmos.
Ainda dá para ver um famoso broche de ouro com pauta musical das primeira notas da valsa “Walkyria”, composta por Chiquinha em 1884 para a opereta “A Corte na Roça”. Ela ganhou esse objeto, que hoje pertence ao acervo do Museu da República, como um presente de críticos teatrais em 1885, graças ao sucesso da obra.
Curtiu? A pode ser visitada entre os dias 24 de fevereiro e 23 de maio, de terça a sexta-feira, das 12h às 17h (horário sujeito a mudanças). O agendamento da visita é obrigatório e deve ser feito por este site (novos horários são disponibilizados às segundas-feiras, às 9h).
Visita segura
O Itaú Cultural adota uma série de medidas para garantir a sua segurança. A principal mudança é que o espaço funciona com agendamento online obrigatório e são permitidos grupos pequenos por horário.
Além disso, todos devem usar máscara e seguir a sinalização indicada no chão. O espaço está equipado com tapetes sanitizantes na entrada e disponibiliza álcool em gel em vários locais. Sua temperatura será aferida logo na entrada e não são permitidos visitantes com febre e sintomas de Covid-19. Ou seja, se você sentir algo parecido no dia da visita, fique em casa.
Por Catraca Livre