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Grande nome da dramaturgia nacional, Plínio Marcos também escreveu peças infantis

O ator, diretor, dramaturgo e jornalista Plínio Marcos é um dos grandes nomes da dramaturgia nacional. Polêmico e inovador, ficou conhecido pelos temas realistas e histórias com personagens de classes sociais menos favorecidas e marginalizadas no Brasil, levando para os palcos brasileiros a cultura popular. Mas o autor de peças adultas, algumas detentoras de prêmios importantes, mas vistas, muitas vezes, como obras compostas somente “por personagens marginalizadas, vocábulos de baixo calão ou temáticas recorrentes, como violência, miséria e prostituição”, também escreveu peças para crianças. Esse lado inusitado do dramaturgo é abordado em artigo do pesquisador Sergio Manoel Rodrigues, publicado na Revista Crioula. O texto apresenta um estudo sobre a obra teatral infantil de Plínio Marcos, discutindo os contextos e os “elementos da tradição e da cultura popular nesse teatro destinado a crianças”.

Rodrigues escolheu algumas peças para sua análise: As aventuras do coelho Gabriel (1965), História dos bichos brasileiros: o coelho e a onça ou Onça que espirra não come carne (1988) e Assembleia dos ratos (1989).

Plínio Marcos não era filiado a partidos políticos, mas era “o alvo preferido da repressão” e, apesar de seu teatro ser considerado subversivo e de ele ser contra a “ideologia da ditadura da época”, não houve impedimentos ou censura para suas apresentações teatrais, embora a peça As aventuras do coelho Gabriel não foi representada muitas vezes como pretendido. Entre 1970 e 1980 houve uma expansão do mercado editorial brasileiro em relação à literatura infantil e juvenil nacional, período em que grandes nomes deste segmento puderam sobreviver com sua arte.

O grupo Rendeiros Contadores de Histórias apresentando a peça infantil de Plínio Marcos que aborda as relações de poder entre bichos humanizados, Onça que espirra não come carne – Foto: Divulgação

O artigo cita obras encenadas que contribuíram para a ascensão do teatro infantil no Brasil e alguns autores de destaque como Tatiana Belinky, Chico Buarque, com Os saltimbancos, adaptação da obra dos Irmãos Grimm, e Vladimir Capella, famoso pelas adaptações das histórias de Hans Christian Andersen e Charles Perrault. Nesse período, o teatro para crianças começava a tomar um rumo diferente do espírito moralizante da época e Plínio, em suas peças infantis, trouxe à cena e ao público assuntos “da realidade social e da própria vivência infantil”, em que o foco eram a criança e seus anseios, seus medos e suas alegrias, sem deixar de lado o imaginário, o lúdico das “travessuras e brincadeiras”.

O teatro para crianças criado por Plínio é marcado pela crítica ao conflito entre opressores e oprimidos, observada na obra As aventuras do coelho Gabriel e Histórias dos bichos brasileiros: o coelho e a onça ou Onça que espirra não come carne, em que o dramaturgo faz uma alusão metafórica ao regime ditatorial brasileiro. As adaptações de fábulas sempre contavam com temas atados às “tradições populares e o questionamento ao comportamento humano”, transpondo um gênero tradicionalmente narrativo para o gênero dramático, rompendo com “a brevidade estrutural da fábula” ao introduzir atos, quadros e cenas mais longas.

O teatro para crianças de Plínio Marcos mistura literatura e encenação, cenário onde prima a valorização da cultura popular: “teatralizando a fábula […] Plínio Marcos entra em consonância com a literatura infantil e juvenil contemporânea. Nesse contexto, é citada a atuação de Plínio como palhaço em sua juventude, que o inspirou a resgatar o mundo do circo, mostrando novos traços da cultura popular nesse teatro em que o “artista extrapola seus limites humanos e animaliza-se, como se observa em algumas atrações próprias dos picadeiros”. Também se ressalta, no estudo, a crítica à marginalidade social em Assembleia dos ratos, na oposição entre os “ratos da cidade”, como representantes de uma cultura urbana considerada superior, e os “ratos do campo”, os “sem importância”.

O artigo nos concede a oportunidade de conhecer o outro lado da dramaturgia de Plínio, em que, nas peças citadas, comprova-se sua preocupação tanto em mostrar e inserir a criança no teatro como ser social, pensante e individualizado como em enaltecer a cultura popular infantil e suas tradições de cantigas e brincadeiras como proposta “de integração e harmonia entre todos os seres, trazendo, mais uma vez, o tradicional e o popular para o ’centro da roda’”– esse é o outro lado da dramaturgia de Plínio Marcos, que vale a pena ser conhecida.

Artigo
RODRIGUES, S. M. Representações da tradição e da cultura popular no teatro para crianças de Plínio Marcos. Revista Crioula, São Paulo, n. 25, p. 330-343, 2020. ISSN: 1981-7169. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.1981-7169.crioula.2020.170463. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/crioula/article/view/170463. Acesso em: 05 nov.2020.

Contato
Sergio Manoel Rodrigues – Pós-doutorando do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP

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