Abanar o rabo e distribuir lambidas são algumas funções dos novos funcionários do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP). Fazer os pacientes se sentirem felizes também está entre as tarefas dos quatro cães “recém-contratados”, que receberam até crachás com os próprios nomes.
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“Foi uma experiência muito boa. Gostei demais”, diz a estudante Raquel de Lima, de 18 anos, que recebeu a visita da pinscher Lili enquanto estava hospitalizada, após uma cirurgia para retirada de nódulos da cabeça. “Comecei a acariciar e ela até dormiu no meu colo”, relembra.
Além de Lili, fazem parte do grupo “Cão Carinho” os grandalhões Joy e Dante, da raça golden retriever, e o pequeno Francisco, um pug carinhoso e bem-humorado. Os animais pertencem a funcionários do hospital e foram cedidos para participar do projeto científico.
Uma vez por semana, os quatro deixam de ser animais de estimação para se tornarem terapeutas, levando alegria e distração aos pacientes da Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Apesar de a jornada de trabalho ser tranquila, a responsabilidade é grande.
Por isso, os cães foram treinados durante um ano e ainda passaram por um processo de reconhecimento do ambiente hospitalar por mais três meses. O Hospital das Clínicas segue diretrizes internacionais para o uso dos animais nos tratamentos.
“Tem que ser vacinado e ter todos os cuidados com relação à saúde. Eles têm que tomar banho 24 horas antes de encontrar o paciente e higienizar as patas na hora que chegam na UTI”, explica a médica intensivista Maria Auxiliadora Martins, idealizadora do projeto.
Cada paciente fica em média 10 minutos próximo aos cães. O tempo pode parecer pequeno, mas o resultado é visível. Estudos científicos comprovam que, além de contribuir com o bem-estar, os cães ajudam a reduzir a ansiedade e a pressão arterial dos pacientes.
“O cortisol é o hormônio do estresse. Então, quando eles recebem a visita, o cortisol diminui, ou seja, o paciente fica mais tranquilo. Isso é cientificamente comprovado. Realmente tem um impacto nessa melhora do humor e na redução da ansiedade”, diz a médica.
Maria Auxiliadora destaca que a proposta do “Cão Carinho” não é utilizar os animais para desenvolver uma terapia, mas diminuir a tensão dentro da UTI e oferecer uma qualidade de vida melhor aos pacientes durante o tratamento em ambiente hospitalar.
O tapeceiro Júlio César Bianchini, de 55 anos, que sofre de câncer no pulmão em estágio avançado, conta que encontrou nos cães a força que precisava para seguir em frente com o tratamento, após ficar duas semanas em coma induzido.
“Você foge um pouco daquele clima de hospital, esquece um pouco daquilo. Foi legal pra caramba. Graças a Deus, melhorei. Fui para o quarto, fiz um pouco de quimioterapia e me liberaram para casa.”
Júlio foi o primeiro paciente a fazer parte do projeto “Cão Carinho” no Hospital das Clínicas, em julho do ano passado. Diferente dos demais, o tapeceiro teve o privilégio de receber a própria cadelinha, Lilica, uma basset de 1 ano.
“Ela começou a me cheirar, viu que eu estava careca, meio magrelo. Depois que ela me conheceu, ficou gostoso, ficou legal”, conta. “O tumor parou de crescer e está estabilizado, graças a Deus. Agora, estou tocando a minha vida”, finaliza.
A médica afirma que o objetivo é expandir o projeto para outros setores do hospital, inclusive com a participação de mais cães e tutores. Entretanto, isso não deve acontecer já em 2020, já que os animais precisam ser treinados.
“Tem várias pessoas entrando em contato e pedindo para ser voluntário. A ideia é expandir, mas tem que ser uma coisa lenta para que a gente tenha segurança, porque a principal preocupação é manter a qualidade do atendimento e garantir a segurança do paciente”, diz.
*Sob supervisão de Adriano Oliveira
Por G1