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‘A história da música brasileira em 100 fotografias’ compila cliques históricos e raros da MPB

Tem aquela do Pixinguinha de pijama na cadeira de balanço, e mais aquela da Dolores Duran com copo de uísque na boate, e ainda a do Caymmi de camisa listrada numa canoa, e a do Vinicius acendendo o cigarro do Tom — todas estão, em cor ou preto e branco, no livro “A história da música brasileira em 100 fotografias”, lançado pela editora Bazar do Tempo, com curadoria de Hugo Sukman e Rodrigo Alzuguir. É presente de Natal antecipado.

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Há muitas maneiras de se contar o que aconteceu desde o cruzamento dos atabaques dos terreiros africanos com os pianos dos salões portugueses, e uma das mais deliciosas é a deste álbum de fotografias com legendas robustas escritas por especialistas da MPB. Dos Oito Batutas aos Paralamas, da modinha ao manguebeat, das coxas de fora de Aracy Cortes ao peito desnudo do Ney Matogrosso, nada ficou sem um clique representativo.

Está lá a foto de João Gilberto, Tom Jobim e Milton Banana apresentando, em 1962, a bossa nova para o mundo no show do Carnegie Hall, em Nova York. Mais adiante, embaixo da tamarindeira da quadra do Cacique de Ramos,Beth Carvalho anima uma roda de pagode e renova o samba.

O melhor do livro são os flagrantes raros, como o encontro de Nelson Cavaquinho e Lupicínio Rodrigues, num boteco não registrado pela história Foto: Divulgação
O melhor do livro são os flagrantes raros, como o encontro de Nelson Cavaquinho e Lupicínio Rodrigues, num boteco não registrado pela história Foto: Divulgação
Wilton Montenegro, em 1980, documentou Clara Nunes com baianas de candomblé no morro da Serrinha, ensaio para a capa do LP “Brasil mestiço”, de 1980 Foto: Divulgação/Wilton Montenegro
Wilton Montenegro, em 1980, documentou Clara Nunes com baianas de candomblé no morro da Serrinha, ensaio para a capa do LP “Brasil mestiço”, de 1980 Foto: Divulgação/Wilton Montenegro
Vinicius de Moraes acendendo o cigarro de Tom Jobim Foto: Pedro de Moraes / Divulgação
Vinicius de Moraes acendendo o cigarro de Tom Jobim Foto: Pedro de Moraes / Divulgação
É de Cafi, de 1972, a foto de Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes e todos os mineiros dentro de um ônibus em Belo Horizonte Foto: Divulgação/Cafi
É de Cafi, de 1972, a foto de Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes e todos os mineiros dentro de um ônibus em Belo Horizonte Foto: Divulgação/Cafi
Tia Ciata Foto: Divulgação
Tia Ciata Foto: Divulgação
Francisco Alves e a Turma do Estácio Foto: Divulgação
Francisco Alves e a Turma do Estácio Foto: Divulgação
Na imagem mais impressionante de 'A história da música brasileira em 100 fotografias', uma reunião de estrelas em 1967: Vinicius de Moraes, Braguinha, Dircinha Batista, Chico Buarque, Caetano Veloso, Tom Jobim, Edu Lobo, Paulinho da Viola, entre outros Foto: Agência O Globo
Na imagem mais impressionante de ‘A história da música brasileira em 100 fotografias’, uma reunião de estrelas em 1967: Vinicius de Moraes, Braguinha, Dircinha Batista, Chico Buarque, Caetano Veloso, Tom Jobim, Edu Lobo, Paulinho da Viola, entre outros Foto: Agência O Globo

O livro começa em 1865, quando um certo Christiano Jr. fotografou dois escravizados tocando tambores no Rio de Janeiro. A última foto é de Elza Soares (“a mulher do fim do mundo e de todos os recomeços”), retratada por Steph Munnier em 2015. Entre elas está a do calhambeque, levado para dentro do estúdio da editora Abril, com Roberto Carlos ao volante, cercado de Erasmo,Wanderlea, Wanderlei Cardoso, Eduardo Araújo e Martinha, seus súditos. Era a brasa-mora da Jovem Guarda.

Elite da fotografia

A mais impressionante de todas é a foto feita em 1967 por Paulo Scheuenstuhl. Mostra um aglomerado das principais estrelas da música dos anos 1960, com o plus das presenças veteranas de Braguinha, Luis Bonfá e Dircinha Batista. Era uma reunião, organizada por Vinicius de Moraes e o executivo de discos João Araújo, para incentivar jovens, como Caetano, Chico, Edu, Paulinho, Tom, a comporem para o carnaval. São mais de 20 grifes sorridentes, porque tem ainda Nelson Motta, Dori Caymmi, Sidney Miller, Torquato Neto, Tuca e outros, todos posando para Scheuenstuhl na cobertura de Vinicius, na rua Diamantina, no Jardim Botânico. Bebeu-se muito, os compositores toparam cair dentro com sambas e marchinhas inéditos para a folia seguinte — mas quando o carnaval de 68 chegou só Caetano apresentou música para a folia.

O livro reúne o fabuloso cast da música brasileira registrado pela elite da fotografia. É de Cafi, de 1972, a foto de Milton Nascimento,Lô Borges, Beto Guedes e todos os mineiros dentro de um ônibus em Belo Horizonte. É de Indalécio Wanderley, um dos craques da geração da revista “O Cruzeiro”, especialista em misses, a foto, de 1959, em que Carlos Lyra serve de base para uma pirâmide humana onde as outras peças são Ronaldo Bôscoli, Tom Jobim e, no alto, um inesperado Ary Barroso. Bob Wolfenson cravou os retratos divertidos de Elis Regina mandando beijinho nos bastidores de “Falso brilhante”, em 1976, e de Caetano Veloso, arregalando apenas um dos olhos, em 1988. Wilton Montenegro, em 1980, documentou Clara Nunes com baianas de candomblé no morro da Serrinha, ensaio para a capa do LP “Brasil mestiço”, de 1980.

Textos de craques

A MPB é fotogênica, ela própria já fotografou a bossa nova numa Rolleiflex, e mais adiante Chico e Tom fizeram juntos um retrato em branco e preto. “História da música brasileira em 100 fotografias” traz registros icônicos dessa trajetória, como o da ala de compositores da Mangueira posando para a posteridade em 1946. Mas o melhor do livro são os flagrantes raros, como o encontro de Nelson Cavaquinho e Lupicínio Rodrigues, num boteco não registrado pela história. Eles tomam umas e outras com as mãos cruzadas, como se celebrassem um casamento de princípios — no caso deles, a poesia da dor amorosa.

Todas essas cenas, o maxixe de Sinhô, o samba sincopado de Wilson Batista, são contextualizadas por textos de craques como Eucanaã Ferraz, Eduardo Jardim, Helena Aragão, Luciana Medeiros, Luiz Antônio Simas, Silvio Essinger e Vagner Fernandes, entre outros, tornando o álbum de fotos um table book com conteúdo, uma preciosidade de conhecimento e de prazer.

O pioneiro Ernesto Nazaré posa, em 1926, em frente à sua casa na rua — ainda um tremendo areal — Visconde de Pirajá, a futura avenida de Ipanema; de mãos dadas e vestidos de baile, Ângela Maria, Marlene, Emilinha Borba e Adelaide Chiozzo celebram a época de ouro da música de rádio; Lamartine Babo, fantasiado de diabo, símbolo do seu America Football Club, passeia de carro pela avenida; enquanto Odair José atravessa a praça Tiradentes cercado de fãs e, finalizando uma história que começou com Pixinguinha de pijama, veste smoking para mostrar que, chique ou brega, a música brasileira sai sempre bem na foto.

Por O Globo

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