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Peter Scheier, o fotógrafo que observou São Paulo

Desembarcado no Brasil em 1937 com perspectiva de trabalho apenas em um frigorífico e como vendedor de cúpulas de abajur, Peter Scheier (1908-1979) não imaginava que se tornaria um dos fotógrafos mais importantes do século 20. Seu sucesso faz com que suas obras estejam presentes até hoje em grandes instituições, como o Masp e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, a FAU-USP. Além do Instituto Moreira Salles, que não só tem um acervo com cerca de 35 mil negativos, como também inaugura no dia 25 de janeiro o Arquivo Peter Scheier, exposição dedicada ao fotógrafo.

A retrospectiva tem curadoria de Heloísa Espada e é o resultado de dois anos de pesquisa sobre o trabalho de Scheier. “O IMS tem como uma de suas missões apresentar seu acervo ao público, e com isso a gente espera que mais pessoas se interessem em estudar esse material”, afirma Heloísa, que enxerga várias linhas de pesquisa possíveis com o enorme acervo. 

De acordo com ela, a exposição é a primeira individual de Scheier nos últimos 50 anos e para produzi-la também foram utilizadas algumas obras sob a guarda de outras instituições. É o caso das fotografias dos edifícios de Gregori Warchavchik, Rino Levi e Carlos Bratke, que são do acervo da FAU-USP e foram emprestadas para ajudar a construir a narrativa da mostra. Scheier foi muito importante para o registro da arquitetura paulistana.

A carreira do fotógrafo se inicia em meados de 1940 com a abertura do Foto Studio Peter Scheier, onde ele começa fazendo retratos e organizando eventos sociais. Já nos anos 1950, ele ganha especial notoriedade ao registrar situações como a 1º Bienal de São Paulo e a construção de Brasília. “Ele fotografou momentos muito importantes da história do País nas várias áreas em que atuou, principalmente na fotografia de arquitetura que lhe rendeu parcerias com vários arquitetos modernos”, afirma Heloísa. 

Arquivo Peter Scheier conta tudo isso através dos cerca de 300 itens escolhidos, entre fotografias, publicações e documentos. Além de apresentar fotos inéditas ou pouco conhecidas da história da arquitetura moderna em São Paulo. A exposição também destaca o período em que o fotógrafo trabalhou para a revista O Cruzeiro e depois para o Masp. E ainda traça um paralelo entre seu trabalho realizado no Brasil e o que ele fez em Israel, quando viajou para fotografar o recém-proclamado país a convite do governo israelense.
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Torre administrativa do Congresso Nacional, 1960 – Foto: Peter Scheier/Acervo IMS


Trabalho autônomo

Em meio a tudo isso, Scheier ainda tinha tempo para desenvolver seus projetos pessoais. É o caso dos registros que ele fazia sobre as vendas dos primeiros lotes de terrenos residenciais no bairro de Santo Amaro, as cenas do treino de mulheres atletas de luta-livre, e as crianças brincando em cortiços no Brás. Esse trabalho mais independente também está presente na exposição como importante parte da sua vida nos anos 1950. 

Autorretrato feito por Peter Scheier com câmera Hasselblad – Foto: Divulgação/Site Peter Scheier

“Tenho um certo apreço crítico pelo seu trabalho de fotografia de rua”, afirma Atílio Avancini, professor de fotografia da Escola de Comunicações e Artes da USP. “São tipos humanos, envolvendo transeuntes nas ruas de São Paulo, operários saindo das fábricas, crianças brincando, automóveis e bondes nas ruas”, conta ele. Para o professor, essas fotos demonstram um certo desejo que Scheier tinha de mostrar um Brasil moderno e esteticamente ordenado. 

No entanto, isso acabou fazendo com que o fotógrafo deixasse de lado importantes questões que o país enfrentava na época, a fim de construir uma imagem positiva e eurocêntrica. “Há poucos negros, pouca sujeira nas ruas, pouca desordem, como se o Brasil fosse um centro civilizado de primeiro mundo”, diz Atílio. Também segundo ele, ainda que estes projetos fossem autônomos, Scheier pegava emprestado o olhar da revista O Cruzeiro para mostrar um país politicamente correto. “Escondendo o que não deveria ser acolhido pela câmera, ou seja, registrando um país cartão-postal.”

A exposição inaugura no dia 25 de janeiro, às 11h, junto com outras atividades do aniversário de São Paulo, e fica até o dia 24 de maio no Instituto Moreira Salles – Av. Paulista, 2424 – Galeria 3. A entrada é gratuita. 

Por Jornal da USP

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