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Da terra para a mesa: G1 Zona da Mata mostra que as hortas em casa podem ganhar mais espaço em tempos de pandemia

Cultivar o próprio alimento, consumir produtos livres de agroquímicos e tê-los à disposição sempre que necessário. Se o cuidado com a qualidade da alimentação é preocupação crescente na sociedade, no período de distanciamento social, com as pessoas passando mais tempo em casa, ter contato com os produtos desde a origem e saber a procedência deles têm sido hábito cada vez mais perceptível em Juiz de Fora.

Seja por orientação nutricional, saúde ou filosofia de vida, o ato de plantar o que come – ou consumir de pequenos produtores locais – tem feito cada vez mais sentido para um número maior de pessoas. É o caso da jornalista Carla da Hora, de 49 anos. Ter a própria horta em casa a recolocou em contato com o passado e em harmonia com a vida.

“A urbanização fez com que perdêssemos os quintais. As hortas eram uma tradição muito comum na vida das pessoas e desapareceram. Minha avó me pedia para buscar alface, temperos, rúcula, taioba. Sempre tive essa memória e sentia falta disso, principalmente na hora de cozinhar e não ter tempero à mão. Como todo mundo, eu não tinha conhecimento, até que decidi fazer um curso de agricultura orgânica e aprendi os princípios. Desde então, tudo que produzimos de lixo aqui em casa vai para compostagem, sem química ou produto de fora”, contou Carla.

Após ficar desempregada no ano passado, a profissional de 49 anos se dedicou à nova vocação, se especializou e hoje comercializa brotos e temperos na “Feira é Daqui” (suspensa durante a pandemia) e por entrega, além de fornecer para restaurantes. Descobrir que era possível cultivar as hortaliças no espaço que tinha à disposição em casa a deixou fascinada.

“Essa técnica te permite plantar qualquer tipo de hortaliça no apartamento e colher com uma semana a 15 dias depois de plantado. Elas têm de quatro a 40 vezes mais nutrientes que a planta adulta, você não precisa esperar uma alface por três meses, colhe com 10 dias, com alto valor nutricional e livre de agrotóxicos e fertilizantes químicos”, disse a agricultora, que teve o primeiro contato com técnicas de cultivo doméstico através do livro Horta Caseira, de Elizabeth Millard.

A nutricionista Mary Tabet também é entusiasta da agricultura urbana. Crítica dos alimentos processados e atenta às doenças relacionadas à má alimentação, como obesidade, diabetes e hipertensão, ela também tem a própria horta e vai além da orientação aos pacientes: ensina crianças a valorizar a origem dos alimentos.

“Faz tempo que as pessoas estão preferindo alimentos naturais. É uma forma de proteger a natureza e de maneira sustentável, uma vez que o Brasil é um dos maiores usuários e produtores de agrotóxicos. Esse incentivo já vem há uns três ou quatro anos, de alimentos orgânicos, sustentáveis. Trabalho como voluntária em uma creche que alimenta cerca de 50 crianças e já fizemos esses jardins com hortelã, salsa, cebolinha, para que elas tenham essa noção de onde vem o alimento, uma forma de ensinar. É muito gostoso tirar aquele alimento da sua terra sabendo que não tem nada que te faça mal. Você plantou, você colheu, você cuidou”.

Cuidado com alimentação e procedência dos produtos é crescente, diz nutricionista — Foto: marytabetnutri_integral

Cuidado com alimentação e procedência dos produtos é crescente, diz nutricionista — Foto: marytabetnutri_integral

Sabor e saúde no prato

O caminho da horta à mesa tem ficado cada vez mais curto, o que é bom para quem tem a função de proporcionar experiências ao paladar. A chef de cozinha Juliana Araújo conta que, embora ainda não seja o ideal, tem conseguido mais acesso aos pequenos produtores.

“O acesso melhorou muito, o movimento dos pequenos produtores junto à adesão ao produto por parte dos chefs reflete essa melhora. Acho que ainda está longe do ideal, mas já vejo um movimento consciente dos profissionais da cozinha em colocar esse produto no menu deles. A frequência depende muito da demanda, mas como a ideia é comida fresca, o ideal seria um acesso diário ou, pelo menos, três vezes por semana. O sabor é outro, o frescor do produto já é ao ponto do preparo. Ingrediente fresco não demanda grandes processos. Ele brilha por si só”, destacou a chef, que também promove essa conscientização entre os alunos nos cursos que leciona.

Dono de restaurante e padaria, o empresário Tiago da Silveira vende aquilo que consome. Vegetariano há 20 anos, ele não usa conservantes ou produtos processados para oferecer aos clientes os benefícios de uma alimentação equilibrada e saudável. Para tornar isso possível, procura estar em contato constante com os produtores, e os consumidores aprovam.

Chef consome alimentos frescos de produtores locais — Foto: Juliana Araújo/Divulgação

Chef consome alimentos frescos de produtores locais — Foto: Juliana Araújo/Divulgação

“Todos os clientes adoram e nos dão um retorno superpositivo! Mas muitos ainda não conhecem e não incluíram em sua rotina o consumo desses alimentos. Aqui temos um segredinho quase que de mãe: de forma sutil, acrescentamos em praticamente todos os nossos pratos alimentos saudáveis e pouco conhecidos. Se normalmente o cliente não faria a escolha mais saudável, aqui ele acaba consumindo e adorando um produto que ele acreditava não gostar”, revelou.

Acostumada a monitorar grandes plantações por todo o estado, a engenheira agrônoma Miriam Grossi incentiva que a pessoa aproveite o espaço que tiver disponível em casa para começar sua hortinha, seja um jardim vertical em apartamentos ou um canteiro. Para perder o receio e ver os primeiros resultados, ela sugere começar pelas mais simples.

“O tipo de hortaliça que vai ser cultivada depende de um tripé: água, luz e solo. Para as pessoas que estão começando a hortinha, eu sugiro hortaliças de fácil cultivo como salsa, manjericão e couve, por exemplo, que exigem menos peculiaridades no cultivo. Tem algumas hortaliças que têm necessidades específicas para seu bom desenvolvimento, então antes de plantar é necessário pesquisar sobre a hortaliça escolhida. Para ter a hortinha é preciso ter uma terra bem adubada e com uma quantidade boa de matéria orgânica para que as plantas nasçam bonitas e bem desenvolvidas. Regar constantemente também é essencial, manter a terra úmida”, enumerou a agrônoma, que elogia a prática também como importante para cuidar da saúde mental durante a pandemia e para unir a família.

Engenheira já testemunhou desenvolvimento de produções domésticas que viraram fonte de renda para famílias — Foto: Miriam Grossi/Arquivo Pessoal

Engenheira já testemunhou desenvolvimento de produções domésticas que viraram fonte de renda para famílias — Foto: Miriam Grossi/Arquivo Pessoal

De olho no futuro

Para o empresário Tiago da Silveira, a preocupação crescente das pessoas com o futuro e com a qualidade de vida contribui para que esse modelo de cultivo e de negócio prospere.

“O mundo está mudando. Hoje a sociedade passa a dar valor e enxergar, pois sente na pele o peso de nossas escolhas. O impacto para a economia local ainda é muito pequeno, mas tenho certeza que podemos ter, em pouco tempo, uma grande surpresa. Produtores como a Carla fazem um trabalho gigantesco, desenvolvendo a cultura, trazendo informação, conhecimento e acesso a uma variedade de enorme de produtos para a comunidade”, defendeu.

Diante de um modo de vida que define como desgastado, a agricultora Carla da Hora entende que o momento da pandemia sugere reflexão em relação ao consumo e acredita que a agricultura urbana pode dar sua contribuição.

“O que mais me fascina é você produzir uma comida de alta qualidade, que nutre as pessoas e cuidando do meio ambiente. Essa pandemia está mostrando isso tudo, nos reconectando com esse processo que é o cultivo do alimento. De onde vem a comida que você coloca no seu prato? Como ela foi feita? É possível plantar em casa, é viável, é saudável e te reconecta com a natureza”, concluiu.

Dono de panificadora oferece receitas saudáveis aos clientes em Juiz de Fora — Foto: Bela Padoca/Divulgação

Dono de panificadora oferece receitas saudáveis aos clientes em Juiz de Fora — Foto: Bela Padoca/Divulgação

Por G1

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