Diante de um cenário de salas de cinemas fechadas pelo mundo devido à quarentena e o combate ao novo coronavírus, as novidades da indústria cinematográfica estão escassas nos primeiros meses de 2020. Grandes produtoras nos EUA e na Europa estão adiando estreias de filmes já prontos para o fim do ano e até para 2021, enquanto filmes em produção foram pausados e projetos que começariam a ser filmados foram temporariamente suspensos. Por enquanto, as novidades ficam no mundo das séries e filmes originais no streaming, como na Netflix, Amazon Prime Video, HBOGo e Hulu.
Filmes muito aguardados como “A Quiet Place Part II”, “The French Dispatch”, “Candyman”, “No Time to Die” e “Black Widow” já foram jogados para o fim do ano, enquanto outros, finalizados, ficaram para 2021, esvaziando o calendário do ano. São pelo menos vinte, de quatro grandes estúdios: Sony, Universal, Disney e Warner Bros. Entre os filmes, “Eternals”, “The Tomorrow War” e “The Batman”.
Nesse cenário, o que as premiações de fim de temporada, como o Oscar e o Globo de Ouro, poderão premiar, se nada parece estar chegando aos cinemas? Uma competição com duas dúzias de filmes não parece animadora e até justa, quando normalmente são mais de uma centena de filmes elegíveis para as categorias de prêmios.
Pensando nessa crise, e prometendo manter a data (28 de fevereiro de 2021), a The Academy of Motion Picture Arts and Sciences, que entrega o Oscar, anunciou uma flexibilização temporária de suas regras, exceção permitida somente à 93ª edição da premiação, no ano que vem. Até então, o filme que quisesse concorrer ao Oscar precisava ficar em cartaz por ao menos uma semana em um cinema de Los Angeles e ter pelo menos três sessões por dia. Agora, a Academia vai permitir que filmes que tinham planos para estrear nos cinemas, mas que foram prejudicados pela pandemia e pela quarentena, poderão concorrer ao Oscar 2021 mesmo que façam sua estreia direto no streaming ou em alguma plataforma on demand. Sem dúvidas, algo sem precedentes na história da Academia, que costuma ser tradicionalista e relutar em adotar mudanças.
Além da estreia direta no online, os filmes concorrentes precisarão cumprir outros requisitos, como o de estar disponível por 60 dias na plataforma Academy Screening Room, streaming exclusivo dos membros da Academia onde os jurados podem assistir às produções.
Essa nova regra poder durar semenas ou meses. Tudo depende de como a pandemia e a quarentena se desenvolver nos Estados Unidos. Segundo a Academia, quando as regras municipais, estaduais e federais permitirem a reabertura das salas de cinema, os filmes que estrearem após essa data voltarão a dever cumprir a regra antiga, de sete dias em Los Angeles.
A mudança pode encorajar produtoras e estúdios a lançarem seus filmes digitalmente, sem receios de que isso estrague as chances nas temporadas de premiação – cujos prêmios trazem, além de visibilidade e prestígio, mais dinheiro. Veja também
Outras mudanças, definitivas
Além dessa mudança temporária, pensada para os tempos excepcionais de quarentena, outras mudanças foram anunciadas, estas definitivas.
A primeira é que 2020 será o último ano que membros da Academia aceitarão DVDs para assistir previamente aos filmes concorrentes às categorias do Oscar. A partir de 2021, todo o processo de julgamento e votação será com conteúdo digital, na plataforma de streaming da Academia. Uma maneira de economizar dinheiro e lixo plástico.
Outra mudança é que as categorias passaram de 24 para 23. As categorias de Melhor Edição de Som e Melhor Mixagem de Som foram combinadas em apenas uma categoria, Som. Essa decisão partiu do conselho dos próprios artistas das áreas técnicas de música, que não viam mais sentido na separação. É comum, no Oscar, os dois prêmios irem para o mesmo filme. Nos últimos 15 anos, isso ocorreu nove vezes. A mudança vem a calhar para os produtores da premiação, que há tempos desejam uma cerimônia mais curta e até tentaram no passado recente, sem sucesso, transferir algumas entregas de prêmios (os menos populares, como os de som) para os intervalos comerciais, fora da transmissão ao vivo.
A categoria de Melhor Filme Internacional também mudou. Agora, todos os membros poderão votar desde as etapas preliminares. Antes, dos mais de 90 concorrentes de todos os cantos do mundo que chegavam para concorrer nessa categoria, cerca de dez eram previamente escolhidos somente por um comitê de voluntários e, depois disso, os membros em geral podiam escolher os cinco finalistas e por fim o vencedor.
Por fim, a regra de que o filme precisa estrear por sete dias em Los Angeles para concorrer mudou, para além da decisão temporária envolvendo o streaming. A Academia vai aumentar o número de cidades nas quais o filme pode estrear nos EUA para concorrer. Agora, além de Los Angeles, as áreas metropolitanas de San Francisco, Nova York, Chicago, Miami, Atlanta e Geórgia passam a valer.
Por Exame