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36 Corvettes escondidos em estacionamento durante anos serão sorteados

O 56 estrelou “Comedians in Cars Getting Coffee”, coadjuvado por Jerry Seinfeld e Jimmy Fallon. O 89 é típico dos anos 80: tem um desses primeiros painéis digitais, com um velocímetro de dígitos enormes, que foram xingados pelos entusiastas. O 53, um dos cerca de cem sobreviventes, passou por uma restauração de quatro mil horas.

Esses carros estão entre os 36 Chevrolet Corvettes de uma célebre coleção: um exemplar de cada ano de produção entre 1953, quando o carro estreou, e 1989. Por mais de 25 anos, eles definharam em um ou outro estacionamento de Nova York.

“O legal desses carros é que a coleção inteira ficou junta esse tempo todo”, conta Chris Mazzilli, proprietário do Gotham Comedy Club em Manhattan e entusiasta do Corvette há décadas. Ele chamou a coleção de “o maior achado de Corvettes da história”.

Em 2020, eles serão sorteados em um concurso. Será a segunda vez que isso acontece, mas dessa vez a coleção será dividida. Serão 36 ganhadores, não apenas um.

Os atuais proprietários, as famílias Heller e Spindler, não foram os ganhadores do primeiro concurso, uma promoção da rede VH1 de TV em 1989. Eles compraram os carros do artista Peter Max, o fenômeno da arte psicodélica que colocou cores gritantes em selos postais, pianos, pôsteres e até em um Boeing 777. Ele tampouco havia participado do concurso da VH1: comprou os Corvettes do ganhador, que nem sequer tinha garagem.

Os proprietários montaram um grupo chamado Heróis do Corvette e prometeram doar à Fundação Educacional da Guarda Nacional o dinheiro dos ingressos. Um bilhete, que dá uma chance de ganhar um dos Corvettes, custa US$ 3. O programa disponível no site do Heróis do Corvette informa que há descontos para compras maiores: cinco bilhetes custam US$ 10, 20 custam US$ 25 e assim por diante, até 7.200 bilhetes por US$ 5 mil.

Segundo Scott Heller, um dos proprietários, os 36 Corvettes serão sorteados. Outro sorteio decidirá qual ganhador receberá qual Corvette.

Coleção Peter Max Corvettes, em Nova York: interior de um Corvette de 1963
Coleção Peter Max Corvettes, em Nova York: interior de um Corvette de 1963

Coleção Peter Max Corvettes, em Nova York: interior de um Corvette de 1963 (Hiroko Masuike/Divulgação)

O concurso da VH1 de 1989 surgiu de um devaneio durante – obviamente – um engarrafamento em Los Angeles. Ao ver um Corvette em outra pista, o produtor musical Jim Cahill começou a divagar. “Quando criança em Chicago, eu queria muito ter um carro daqueles, mas sempre esteve fora de meu alcance. Foi assim que idealizei o concurso: para compensar minha frustração por nunca ter conseguido comprar um”, relatou na época.

Naqueles dias anteriores à internet, para entrar no concurso era preciso discar um número 900 a US$ 2 por ligação. Mais de um milhão de pessoas se inscreveram. O conselho de Cahill para o ganhador foi: “Fique com doze. Venda doze. Dê uma dúzia a seus amigos.”

O ganhador – Dennis Amodeo, carpinteiro de Huntington, Nova York – não fez isso. Antes de conseguir um lugar para guardá-los, foi contatado por Max, que se ofereceu para comprar os 36 carros.

Não foi a primeira vez que Max comprou a granel. Caçando cartões-postais em 1970, ele adquiriu o estoque completo de uma loja de artigos para colecionadores. Em 1989, em uma mostra de arte no Arsenal do 7º Regimento, em Manhattan, comprou uma sala inteira com paredes de madeira acetinada inspirada no projeto do pavilhão Ford na Feira Mundial de 1939.

Quanto aos carros, Mazzilli conta que Max sonhava em entrar com eles no estádio do Yankees.

Primeiro, porém, ele queria pintá-los com um visual colorido berrante sobre as curvas tipicamente americanas dos Corvettes. Depois que os carros chegaram a Nova York, ele fez um trabalho preliminar de colar tiras de papel vegetal em vários deles.

No entanto, nunca chegou a realmente pintar nenhum deles. Por um tempo, ele entrou em uma briga com a Receita Federal, que o acusara de não declarar mais de US$ 1 milhão em vendas de obras de arte. Ele terminou admitindo a culpa e foi condenado a dois meses de prisão e multa de US$ 30 mil.

Os carros definharam em um estacionamento nos arredores do centro, até que o prédio foi vendido e os carros tiveram de ser retirados. Foi então que Heller contatou Max. “Fui responsável por transferir os carros para Peter”, relata Heller.

Os Corvettes foram para um novo lar, no distrito de Flatiron. Heller voltou a se envolver no caso vários anos depois, quando os carros tiveram de ser retirados do segundo estacionamento. Foram primeiro para o Brooklyn e depois para o norte de Manhattan. Depois disso, mudaram-se novamente para o sudeste de Manhattan.

Corvette de 1954
Corvette de 1954
Corvette de 1954 (Hiroko Masuike/Divulgação)

Mazzilli entrou na história após um evento em Long Island em 2014. Mazzilli, que estava exibindo seu próprio Corvette 71, foi buscar uma garrafa de água. Quando voltou, “havia dois pés saindo debaixo do meu carro”.

Eles eram do primo de Scott Heller, Peter, que perguntou a Mazzilli sobre um Corvette 53. Depois perguntou sobre um Corvette 54 e um 55.

“Perguntei se ele estava falando da coleção de Peter Max. Ele ficou boquiaberto de surpresa”, recorda Mazzilli.

O 53 é talvez o mais raro, já que naquele ano a Chevrolet fabricou apenas 300 Corvettes. À época do concurso da VH1, circulou uma história de que a empresa que coletou os carros para a VH1 teve a chance de comprar um 53 duas semanas antes de assumir o projeto da VH1, mas havia recusado, porque o preço era exorbitante. Quando assumiu o projeto do concurso, precisou de um 53 e acabou comprando o mesmo carro – mas por US$ 7 mil a mais do que o preço pedido anteriormente.

E quanto ao 56 que apareceu em “Comedians in Cars Getting Coffee”?

“Jerry [Seinfeld] estava no meu bar uma noite, falando de um próximo episódio com Jimmy Fallon, e disse que precisava de um carro dos anos 50. Eu disse: ‘Dá uma olhada nessa foto. Esse carro é puro anos 50 nessa cor verde cascata.’ Ele disse: ‘Adorei esse’”, conta Mazzilli.

“Tivemos de trabalhar rápido para preparar o carro. Tinha ficado parado 25 anos. Foi preciso mudar toda a fiação elétrica. O motor tinha uns problemas. Mas conseguimos fazê-lo rodar e é uma beleza de carro.”

Por James Barron, do The New York Times

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