A Associação Americana de Psicologia reuniu em seu site um amplo material de apoio para os profissionais que têm o desafio de atender a pacientes num estado de fragilidade emocional por causa novo coronavírus. O luto é um dos temas de destaque, uma vez que a pandemia subverteu os rituais que ajudavam a lidar com as perdas. Para a doutora Sherry Cormier, a Covid-19 não é somente uma crise epidemiológica, mas também psicológica: “temos que começar reconhecendo que nos encontramos no meio de um processo de sofrimento coletivo. Todos estamos perdendo algo”.
Luto: pandemia do coronavírus provoca diversas formas de sentimento de perda — Foto: Mariza Tavares
Ela afirma que, além da perda de entes queridos, ou do emprego, assistimos à destruição de algo maior: “vemos o sistema de saúde, a rede de ensino e a economia, ou seja, toda a estrutura da qual dependemos, se desestabilizando”. A rotina é uma âncora para nossas vidas, mas foi virada do avesso. Como lidar com o abalo na previsibilidade que norteava o dia a dia? Para Robert Neimeyer, professor da Universidade de Memphis, “perdemos nosso senso de controle e de justiça, nossa crença de que somos capazes de proteger nossas crianças e idosos”.
A morte está associada ao luto mais trágico e a supressão dos rituais que trariam alento às pessoas, como velórios e enterros com a presença de parentes e amigos, tem um enorme impacto na saúde mental. Para o doutor Neimeyer, mesmo os dias ou horas que antecedem a morte têm grande relevância no processo de elaboração da perda: “é quando podemos fazer uma visita, segurar a mão do ente querido, pedir perdão ou perdoar. São maneiras de suavizar o golpe”.
No entanto, o distanciamento social impede qualquer oportunidade de conexão, o que pode levar a um quadro conhecido como síndrome do luto prolongado. Embora não seja possível fixar prazos para superar a dor, no chamado luto complicado, todos os pensamentos da pessoa estão relacionados à perda e ela não consegue realizar nem mesmo as atividades costumeiras. Trata-se de um comportamento persistente, que se estende por um longo período. A psicóloga Sherry Cormier afirma que é fundamental nomear a dor: “escrever ou manter um diário ajuda bastante, assim como buscar o apoio de amigos e familiares. O isolamento não pode se transformar em erosão do suporte social. Só assim conseguiremos resgatar a confiança nos dias futuros”.
Por G1