Por Guilherme Gama
Expor o olhar das mulheres mitológicas sobre as narrativas clássicas – a que elas mesmas pertencem – é o que torna inéditos os poemas de Públio Ovídio Naso, poeta latino do século 1 antes de Cristo. Em sua obra As Heroides, Ovídio apresenta cartas de mulheres aos seus maridos ou amantes ausentes, seja porque se encontram na guerra, seja porque estão ocupados com outras mulheres. Cecilia Ugartemendía, doutoranda em Letras Clássicas pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, traz os detalhes e as peculiaridades dessa obra no novo episódio de Estudos Clássicos em Dia, série de vídeos produzida pela FFLCH. O vídeo está disponível neste link.
“Como leitores, nós conhecemos a tradição mítico-poética, as tragédias e as épicas de onde as mulheres provêm, e quando lemos As Heroides percebemos que as coisas não foram bem assim como contadas naquelas obras”, destaca Cecilia. No vídeo, a doutoranda discorre sobre três epístolas de Ovídio, que expressam, além do ineditismo de gênero, as novas possibilidades de interpretação, entendimento e construção das histórias clássicas.
Entre as epístolas está a de número 12, escrita por Medeia, figura tradicionalmente vista como uma bruxa, uma feiticeira que assassina os filhos por vingança. Porém, nessa leitura, Medeia conta que era uma menina simples antes de encontrar Jasão, seu marido, a quem dirige a carta, e só se converteu a assassina depois de conhecê-lo, como explica Cecilia. “Então, nós temos essa perspectiva da mulher, falando sobre si mesma, dando uma visão diferente daquilo que nós temos hoje sobre ela.”
A voz que Ovídio dá às mulheres em seus poemas permite que elas exponham elementos despercebidos pelo leitor das narrativas clássicas – por sua vez, contadas pelos homens. “Agora nós estamos com a versão das mulheres. E as mulheres, da perspectiva delas, contam novas coisas”, afirma Cecilia.
Assista neste link ao vídeo As Heroides de Ovídio, da série Estudos Clássicos em Dia. Clique aqui.
Por Jornal da USP
