O câncer de colo do útero é o terceiro tumor maligno mais frequente entre as mulheres (atrás somente do de mama e do colorretal) e a quarta causa de morte feminina por câncer no Brasil, de acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Em 2017, último dado disponível pelo instituto, 6.385 mulheres perderam a vida por causa da doença no país.
Os altos números, entretanto, não parecem assustar. A vacina contra o Papilomavírus Humano, o HPV, vírus causador do câncer, está disponível gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas tem baixa procura. A cobertura vacinal atual está bem abaixo dos 80% recomendados pelo Ministério da Saúde: apenas 51,4% das meninas de 9 a 15 anos e 22,4% dos meninos de 11 a 14 anos tomaram as duas doses necessárias para a proteção completa. Essa é a faixa etária em que a imunização produz a melhor resposta no organismo.
De acordo com a ginecologista Neila Maria de Gois Speck, presidente da Comissão Nacional Especializada de Trato Genital Inferior da Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), o HPV é um vírus sexualmente transmissível e bastante comum – todas as pessoas sexualmente ativas provavelmente terão contato com ele ao longo da vida.
“A maioria dos tipos de HPV tem caráter transitório e não causa doença alguma no corpo. Entretanto, quando ele gera infecções persistentes, pode afetar o crescimento das células e evoluir para lesões pré-malignas ou mesmo malignas, causando o câncer de colo do útero”, explica Neila.
Existem muitos tipos de HPV e a vacina protege contra aqueles considerados de alto risco – ou seja, os que costumam evoluir para um câncer. Por isso, é fundamental que a imunização seja feita corretamente, preferencialmente antes do início da vida sexual (ou seja, da possível exposição ao vírus).
“A vacina é segura e pode evitar totalmente a contaminação pelo vírus”, reforça o oncologista Marcelo de Oliveira dos Santos, do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Melhor forma diagnóstico precoce
Prevenir o câncer de colo do útero não se resume a tomar a vacina (a imunização contra o HPV entrou no calendário vacinal brasileiro somente em 2014). A realização do exame Papanicolau consegue identificar a presença de lesões ainda na fase pré-maligna, antes de evoluírem para um câncer. Nesse estágio, o tratamento é capaz de promover a cura na maioria dos casos e não requer remoção do útero, preservando a fertilidade da mulher.
“O Papanicolau deve ser realizado em todas as mulheres a partir dos 25 anos, mesmo aquelas que receberam a vacina, já que ela não protege contra todos os tipos de HPV. O exame precisa ser repetido um ano depois e, se esses dois primeiros resultados forem negativos, pode passar a ser feito a cada três anos”, orienta dos Santos.
Fazer o exame regularmente é fundamental para diagnosticar as lesões ainda na fase inicial, já que os primeiros sintomas só aparecem quando o problema alcança um estágio mais avançado, normalmente maligno e com bem menos chance de cura. O tratamento pode envolver cirurgia para a retirada do útero (o que pode representar a cura), combinado ou não de radioterapia e quimioterapia – normalmente indicadas em casos mais graves, quando o tumor já avançou para além do útero.
Ainda que raramente, é possível desenvolver o câncer de colo do útero mesmo sem a infecção pelo vírus HPV. Entre os fatores de risco estão o tabagismo, o início muito precoce da vida sexual e, de acordo com alguns estudos, o uso prolongado de anticoncepcionais. “Mas são casos muito raros. Não se recomenda, por exemplo, interromper o uso de anticoncepcionais como forma de evitar o câncer, pois os efeitos ainda são bastante discutíveis”, diz Neila.
Por G1